Chegou. Um barulho. Algo morto estava ali dentro
daquela vida. Quando criança, chegara a acreditar em ressurreição. O deus maior
não permitia a dúvida.
Acreditava que, depois do fechar de olhos, seu corpo
teria a vida de novo, em algum canto do céu.
O olhar mais tenebroso! Parece que a moça do
catecismo estava certa! Ressurreição... Aquela catecista de cabelos enrolados
só se esquecera de explicar que a ressurreição acontece no labirinto das veias
mais podres e petrificadas.
O que acordou? O que foi pedido?
Uma poça de sangue para ser adentrada... Como?
Risos... Escárnios... Uma dor coroada com os
espinhos do Cristo.
Sentiu mais uma veia podre pedir vida. Tão belo esse
Cristo na cruz.
Mais uma veia pede vida.
Mais um sexo, mais pernas, mais uma tentativa...
O corpo que pede a ressurreição das veias não
está... mas está em todos os outros que a entrelaçam...
Tentativas inúteis de pegar o que lá foi colocado...
Lá? Onde? O quê? Para quê? Por quê?
As veias pulsam e querem dar vida à morte...
conseguem. Algo vivo, demasiadamente
vivo, a leva para um abismo, uma loucura, um florescer.
Mais pernas, mais, mais e mais...
Tentativas inúteis, sexos inúteis.
As veias pulsam... Eram mais belas quando estavam
podres.