quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Identidade?

   O cheiro da cana cortada misturada ao suor ainda estava ali. O cubículo escuro e nada arejado aconchegava todos os desejos. 
  A gordura já fazia parte da decoração há tempos, impossível querer removê-la, inadmissível arrancá-la das entranhas da casa.

   __ Precisamos de ácido para limpar tudo isso.

Ácido? Corroer a história? Não! Pelo amor de Deus, Não!

   __ Providenciarei o ácido para limparmos tudo.

   Tudo limpo... tudo doloridamente limpo. 

   Casa alugada, história sobreposta...

Não! Não! É uma solidão cortante não existir mais ali o cheiro do suor, do álcool e do óleo no estado de entupir as coisas.

   Restara apenas um RG e um móvel desengordurado...

Identidade? Como identificá-lo naquele móvel propositalmente limpo?

   Anos se passaram, o aroma do álcool agora engarrafado traz lágrimas, angústias e o líquido ameniza a dor.
   O móvel será levado por aquele que traz as veias entupidas de mistérios e jamais empresta a sua sujeira para reavivar o móvel carregado de alvura.

Isso! Leve-o! Deixe o álcool, deixe um pedaço seu, deixe um pedaço dele. Empreste-me um pouco do seu sebo, devolva-me a identidade dele, a sua, a nossa...

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