MUNCH, Edvar. O Grito, 1893.
O caixão está ali, mas há dificuldade
em colocar o corpo nessa caixa... Chora, reza, enlouquece de dor.
Caixão escancarado... não há
morto ali dentro, mas é preciso velá-lo... o morto ou o caixão.
Quer retirar aquele espectro do
sofá e fazê-lo entrar no caixão... cambaleando como um bêbado, ele
consegue chegar próximo... precisa de ajuda para entrar na caixa mórbida...
implora pela ajuda dela, mostrando-lhe que é apenas uma fantasia...
Recusa veemente a ajudá-lo,
lutando para que aquele fantasma torne-se humano e beba com ela as dores e os
prazeres da vida e fume um cigarro para comemorar a ressurreição.
Ele se deita novamente no sofá e repousa na alma dela, contorcendo-a
lascivamente.
O caixão suplica o seu choro, a
defumação, o desespero, o corpo, a tampa e a terra... Atende parte da
súplica... Para o defunto, ainda cultua a esperança leitosa. Ele
sorri com os olhos que a destroem num imenso prazer.
A madrugada termina e ela vence o
caixão... deixa-o no meio da sala, faz o nome do pai, ajoelha-se, rasteja-se
num chão manchado de lamúrias e o convence a esperar mais um pouco pelo corpo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário