domingo, 16 de fevereiro de 2014

Velando um caixão


MUNCH, Edvar. O Grito, 1893.

O caixão está ali, mas há dificuldade em colocar o corpo nessa caixa... Chora, reza, enlouquece de dor.
Caixão  escancarado... não há morto ali dentro, mas é preciso velá-lo... o morto ou o caixão.
Quer retirar aquele espectro do  sofá e fazê-lo entrar no caixão... cambaleando como um bêbado, ele consegue chegar próximo... precisa de ajuda para entrar na caixa mórbida... implora pela ajuda dela, mostrando-lhe  que é apenas uma fantasia...
Recusa  veemente a ajudá-lo, lutando para que aquele fantasma torne-se humano e beba com ela as dores e os prazeres da vida e fume um cigarro  para comemorar a ressurreição.  Ele se deita novamente no sofá e repousa na alma dela, contorcendo-a lascivamente.
O caixão suplica o seu choro, a defumação, o desespero, o corpo, a tampa  e a terra... Atende parte da súplica... Para o defunto, ainda cultua a esperança  leitosa. Ele  sorri com os olhos que a  destroem num imenso prazer.

A madrugada termina e ela vence o caixão... deixa-o no meio da sala, faz o nome do pai, ajoelha-se, rasteja-se num chão manchado de lamúrias e o convence a esperar mais um pouco pelo corpo.



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