terça-feira, 25 de julho de 2017

Concreto

    Ana acordou, sentindo Maria Flor remexendo dentro de sua barriga, tentou se levantar, mas se deparou com concreto.
    Calma, é só um sonho, logo acordo de verdade. O bebê chutava sua barriga.
Suas narinas não sentiam mais o entrar da vida, se deu conta de que estava enterrada viva. Sempre tivera medo disso. Não podia ser verdade. Começou a se debater até sangrar no áspero do concreto.
Maria Flor ficava cada vez mais agitada. Ana, desesperada, incrédula, machucada, sem ar, morta.       Maria Flor demorou um pouco mais para se aconchegar no ventre morto da mãe.
    Amigos e familiares passaram meses procurando o paradeiro de Ana. Todos sabiam que ela havia sofrido várias ameaças do ex-companheiro, Agnaldo, mas a maioria se recusava a acreditar que um homem tão educado e extremamente cavalheiro pudesse fazer alguma ameaça a ela.
    Ana era considerada louca por muitos, não tinha credibilidade, suas palavras e pedidos de socorro só funcionavam com algumas pessoas.
    Agnaldo fez tudo sozinho, queria sentir o prazer de maltratá-la só para si. Ele a fez entrar no carro na volta do supermercado, ao qual ela ia a pé. Fingiu que o carro havia dado problema, parou e colocou no rosto de Ana um lenço com um líquido que a fez desmaiar. Ele sabia do seu maior medo. Já havia deixado tudo pronto no rancho onde haveria pessoas apenas depois de um mês.
    Nas festas, ninguém desconfia de que Ana estava morta embaixo daquelas terras.
    O homem sério e gentil ajuda a família da morta e a polícia nas buscas e Ana continua sendo chamada de louca por ter pedido socorro tantas vezes, avisando que esse homem poderia fazer algo contra ela.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Padarias e lojas de Conveniência

Estou em férias, dias de acordar tarde (teoricamente). Acordei muito cedo e com vontade de tomar um café e olhar pessoas.
Quando vim de Sales Oliveira para Ribeirão Preto (faz tempo), o que muito me encantava, nesta cidade que eu achava um monstro, era ver padarias e lojas de conveniência em que muitos tomavam café da manhã, da tarde, almoçavam e degustavam até o café da noite.
Lá em Sales, na minha infância e na adolescência,existia a perua do Zé Padeiro, este já deixava, em cada portão, a encomenda matinal de seus fregueses e também buzinava para saber se alguns queriam algo mais.
Aqui em Ribeirão ou em outras cidades, adoro tomar café nas padarias ou nos postos.
Hoje me levantei com muita fome, mas não queria nem meu café, nem meu pão. Queria gente. Poderia ter ido à padaria perto de casa, mas lá não tem a mesa da cozinha, tomada por pessoas deliciosamente desconhecidas, ou conhecidas.
Fui ao posto em que as moças são simpáticas, fiz meu pedido e fiquei observando pessoas saindo e entrando, umas com pressa, outras degustando seu café da manhã com calma, como eu.
Imaginei a história de algumas pessoas. O moço que estava ao meu lado deveria ser um escritor, estava saboreando as palavras de seu café para, depois, lançá-las no papel e lapidá-las.
O senhorzinho que disse para a moça: O de sempre _ pegou seu saco de pães e se dirigiu ao caixa, esse prefere um café em casa, talvez com esposa e filhos.
Ao lado do moço escritor, havia mais uma calmaria no café do homem que, na minha imaginação, era um arquiteto, estava pensando em sua próxima obra.
Muitos entravam, tomavam seus cafés correndo e saíam muito depressa. Com certeza, para não perder a hora do trabalho.
Ali, tinha muito de Zé Padeiro e de cafés da manhã tomados em mesas fartas. Faltou-me o ar de tanta alegria.