A casa era aconchegante como casa de avó e tenebrosa como o habitat do pai.
Os pais saíram para trabalhar e ela ficou agonizando cada pensamento sobre a vida. Lembrava de uma palestra em que o homem achara tenebroso a mãe ter pensado em abortá-lo. Ela, descrente da vida, lamentava por sua mãe não ter tido a mesma ideia e coragem para consumir o ato.
O lar tinha resquícios de lar, quando o pai não estava. Sua presença era sinônimo de proibição de vida.
__ Folgada.
Gritou o pai quando chegou. Mais uma vez essa característica vinda da boca de seu provedor.
Ela continuou em seus devaneios. Folga é falta de algo. Mas não para isso que servia um dia de folga? Faltarem coisas para fazer?
A única coisa que nunca lhe faltava era dor.
Lembrou-se da casa da vó que sempre fora seu abrigo, mas infelizmente incapaz de lhe arrancar das profundezas mais doridas.
Caminhar por esse pântano era um ar tétrico, glorioso. Outro caminho? Por onde? Para onde?
Mais uma vez vomitou sangue. Não socorrida. Não notada.
Juntou o sangue de seu vômito ao sangue de seus pulsos. Não fora socorrida.
Tiveram a coragem de um aborto tardio, mas tiveram.
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
terça-feira, 25 de julho de 2017
Concreto
Ana acordou, sentindo Maria Flor remexendo dentro de sua barriga, tentou se levantar, mas se deparou com concreto.
Calma, é só um sonho, logo acordo de verdade. O bebê chutava sua barriga.
Suas narinas não sentiam mais o entrar da vida, se deu conta de que estava enterrada viva. Sempre tivera medo disso. Não podia ser verdade. Começou a se debater até sangrar no áspero do concreto.
Maria Flor ficava cada vez mais agitada. Ana, desesperada, incrédula, machucada, sem ar, morta. Maria Flor demorou um pouco mais para se aconchegar no ventre morto da mãe.
Amigos e familiares passaram meses procurando o paradeiro de Ana. Todos sabiam que ela havia sofrido várias ameaças do ex-companheiro, Agnaldo, mas a maioria se recusava a acreditar que um homem tão educado e extremamente cavalheiro pudesse fazer alguma ameaça a ela.
Ana era considerada louca por muitos, não tinha credibilidade, suas palavras e pedidos de socorro só funcionavam com algumas pessoas.
Agnaldo fez tudo sozinho, queria sentir o prazer de maltratá-la só para si. Ele a fez entrar no carro na volta do supermercado, ao qual ela ia a pé. Fingiu que o carro havia dado problema, parou e colocou no rosto de Ana um lenço com um líquido que a fez desmaiar. Ele sabia do seu maior medo. Já havia deixado tudo pronto no rancho onde haveria pessoas apenas depois de um mês.
Nas festas, ninguém desconfia de que Ana estava morta embaixo daquelas terras.
O homem sério e gentil ajuda a família da morta e a polícia nas buscas e Ana continua sendo chamada de louca por ter pedido socorro tantas vezes, avisando que esse homem poderia fazer algo contra ela.
Calma, é só um sonho, logo acordo de verdade. O bebê chutava sua barriga.
Suas narinas não sentiam mais o entrar da vida, se deu conta de que estava enterrada viva. Sempre tivera medo disso. Não podia ser verdade. Começou a se debater até sangrar no áspero do concreto.
Maria Flor ficava cada vez mais agitada. Ana, desesperada, incrédula, machucada, sem ar, morta. Maria Flor demorou um pouco mais para se aconchegar no ventre morto da mãe.
Amigos e familiares passaram meses procurando o paradeiro de Ana. Todos sabiam que ela havia sofrido várias ameaças do ex-companheiro, Agnaldo, mas a maioria se recusava a acreditar que um homem tão educado e extremamente cavalheiro pudesse fazer alguma ameaça a ela.
Ana era considerada louca por muitos, não tinha credibilidade, suas palavras e pedidos de socorro só funcionavam com algumas pessoas.
Agnaldo fez tudo sozinho, queria sentir o prazer de maltratá-la só para si. Ele a fez entrar no carro na volta do supermercado, ao qual ela ia a pé. Fingiu que o carro havia dado problema, parou e colocou no rosto de Ana um lenço com um líquido que a fez desmaiar. Ele sabia do seu maior medo. Já havia deixado tudo pronto no rancho onde haveria pessoas apenas depois de um mês.
Nas festas, ninguém desconfia de que Ana estava morta embaixo daquelas terras.
O homem sério e gentil ajuda a família da morta e a polícia nas buscas e Ana continua sendo chamada de louca por ter pedido socorro tantas vezes, avisando que esse homem poderia fazer algo contra ela.
sexta-feira, 7 de julho de 2017
Padarias e lojas de Conveniência
Estou em férias, dias de acordar tarde (teoricamente). Acordei muito cedo e com vontade de tomar um café e olhar pessoas.
Quando vim de Sales Oliveira para Ribeirão Preto (faz tempo), o que muito me encantava, nesta cidade que eu achava um monstro, era ver padarias e lojas de conveniência em que muitos tomavam café da manhã, da tarde, almoçavam e degustavam até o café da noite.
Lá em Sales, na minha infância e na adolescência,existia a perua do Zé Padeiro, este já deixava, em cada portão, a encomenda matinal de seus fregueses e também buzinava para saber se alguns queriam algo mais.
Aqui em Ribeirão ou em outras cidades, adoro tomar café nas padarias ou nos postos.
Hoje me levantei com muita fome, mas não queria nem meu café, nem meu pão. Queria gente. Poderia ter ido à padaria perto de casa, mas lá não tem a mesa da cozinha, tomada por pessoas deliciosamente desconhecidas, ou conhecidas.
Fui ao posto em que as moças são simpáticas, fiz meu pedido e fiquei observando pessoas saindo e entrando, umas com pressa, outras degustando seu café da manhã com calma, como eu.
Imaginei a história de algumas pessoas. O moço que estava ao meu lado deveria ser um escritor, estava saboreando as palavras de seu café para, depois, lançá-las no papel e lapidá-las.
O senhorzinho que disse para a moça: O de sempre _ pegou seu saco de pães e se dirigiu ao caixa, esse prefere um café em casa, talvez com esposa e filhos.
Ao lado do moço escritor, havia mais uma calmaria no café do homem que, na minha imaginação, era um arquiteto, estava pensando em sua próxima obra.
Muitos entravam, tomavam seus cafés correndo e saíam muito depressa. Com certeza, para não perder a hora do trabalho.
Ali, tinha muito de Zé Padeiro e de cafés da manhã tomados em mesas fartas. Faltou-me o ar de tanta alegria.segunda-feira, 5 de junho de 2017
Orgasmizar-se
Uma redenção aconteceu...
Apesar disso, sente-se livre e belo, bem, bem visto no sentido de desejado. O término o deu a dor da descoberta.
O sofrimento foi profundo, profano, devastou-o tanto que o desejo realizou-se: mostrar-se como homem com alguém, ou sem alguém.
Riu dos próprios tropeços e buscou a redução do medo.
Tem vontade de agradecê-la por cada agressão após o fim do relacionamento, pois somente assim rasgou-se e seu corpo ficou à mercê.
O rasgar da dor, a dor do rasgar eminentes e iminentes o levaram ao que uma mulher como ela jamais admitiria: sempre suprira o parceiro da forma mais sutil.
As estrelas tão acariciadas lhe organizam o corpo, a alma o cérebro.
Alguém ou alguéns... não importa!
Orgasmizar-se leva à sobrevivência!
Apesar disso, sente-se livre e belo, bem, bem visto no sentido de desejado. O término o deu a dor da descoberta.
O sofrimento foi profundo, profano, devastou-o tanto que o desejo realizou-se: mostrar-se como homem com alguém, ou sem alguém.
Riu dos próprios tropeços e buscou a redução do medo.
Tem vontade de agradecê-la por cada agressão após o fim do relacionamento, pois somente assim rasgou-se e seu corpo ficou à mercê.
O rasgar da dor, a dor do rasgar eminentes e iminentes o levaram ao que uma mulher como ela jamais admitiria: sempre suprira o parceiro da forma mais sutil.
As estrelas tão acariciadas lhe organizam o corpo, a alma o cérebro.
Alguém ou alguéns... não importa!
Orgasmizar-se leva à sobrevivência!
terça-feira, 16 de maio de 2017
Feijoada com galinhada
A bagunça estava posta à mesa.
__ A Maria do fulano morreu, você sabe? Eu fui no velório, mas não passei a noite, nem fui no enterro.
__ A fia do tal que morava lá embaixo separou.
__ Nossa! A festa tava ótima, eles me adoraram.
__ Agora vou contar uma fofoca forte.
__ Eeee, e aí? Tudo bão?
Eram vários assuntos ao mesmo tempo; muitas vezes, nem dava para assimilar quase nada, mas o objetivo era falar e escutar, entender era para outra instância ou família. Ali a fala era desculpa para se trocar carinho. A galinhada também... desculpa e entrelaçamento de vidas e histórias cortadas ou continuadas.
Pratos e os copos cheios. E a boca da vó materna vazia de dentes, mas transbordada de um riso sem tamanho, sem entendimento e reconhecimento do que estava acontecendo por ali e da fisionomia de todos os extremamente conhecidos-estranhos.
Acaba-se o domingo, nessa bagunça parecida com uma gaveta organizada e cheirosa.
Segunda-feira
Visita rápida às tia, prima, amiga queridas.
__Pega feijoada, fia, pega no prato fundo, no prato raso não cabe nada.
__Tô escutano, no rádio, o fulano falar mal do prefeito. Nóóó, hoje ele sai preso.
__Pega mais feijoada. Come esse jiló curtido.
__Qué cerveja?
__Cê viu o Lula? Mas eu achei bão. Ninguém acaba com ele, não. Nóóó, mas eu gosto do Lula.
__Qué mais jiló?
__Qué suco?
À mesa, um amor incondicional pelo primo que estava a sua frente, primo e afilhado; ao seu lado estavam as primas e afilhadas amadas com o mesmo amor dispensado ao primo e ao padrinho.
Barriga lotada, mas com espaço para sentir a vó paterna dizendo: Come mais, tira mais comida. Viver sem ela, nunca será fácil, apenas suportável.
Um carinho no gato, que também ama a vó.
Casa da mãe, um pouco de TV, prosa com ela e a prima afilhada. Um saco de salgadinho com sal da infância. E a notícia de que ganharia a cafeteira vermelha tão desejada.
Estrada.
Terça-feira
Um café, um cigarro para começar o dia e manter o gosto da galinhada e da feijoada.
__ A Maria do fulano morreu, você sabe? Eu fui no velório, mas não passei a noite, nem fui no enterro.
__ A fia do tal que morava lá embaixo separou.
__ Nossa! A festa tava ótima, eles me adoraram.
__ Agora vou contar uma fofoca forte.
__ Eeee, e aí? Tudo bão?
Eram vários assuntos ao mesmo tempo; muitas vezes, nem dava para assimilar quase nada, mas o objetivo era falar e escutar, entender era para outra instância ou família. Ali a fala era desculpa para se trocar carinho. A galinhada também... desculpa e entrelaçamento de vidas e histórias cortadas ou continuadas.
Pratos e os copos cheios. E a boca da vó materna vazia de dentes, mas transbordada de um riso sem tamanho, sem entendimento e reconhecimento do que estava acontecendo por ali e da fisionomia de todos os extremamente conhecidos-estranhos.
Acaba-se o domingo, nessa bagunça parecida com uma gaveta organizada e cheirosa.
Segunda-feira
Visita rápida às tia, prima, amiga queridas.
__Pega feijoada, fia, pega no prato fundo, no prato raso não cabe nada.
__Tô escutano, no rádio, o fulano falar mal do prefeito. Nóóó, hoje ele sai preso.
__Pega mais feijoada. Come esse jiló curtido.
__Qué cerveja?
__Cê viu o Lula? Mas eu achei bão. Ninguém acaba com ele, não. Nóóó, mas eu gosto do Lula.
__Qué mais jiló?
__Qué suco?
À mesa, um amor incondicional pelo primo que estava a sua frente, primo e afilhado; ao seu lado estavam as primas e afilhadas amadas com o mesmo amor dispensado ao primo e ao padrinho.
Barriga lotada, mas com espaço para sentir a vó paterna dizendo: Come mais, tira mais comida. Viver sem ela, nunca será fácil, apenas suportável.
Um carinho no gato, que também ama a vó.
Casa da mãe, um pouco de TV, prosa com ela e a prima afilhada. Um saco de salgadinho com sal da infância. E a notícia de que ganharia a cafeteira vermelha tão desejada.
Estrada.
Terça-feira
Um café, um cigarro para começar o dia e manter o gosto da galinhada e da feijoada.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
Cordas vocais arrancadas
Uma voz agredida tantas vezes
Um silêncio
Sempre amputado
Uma batalha para ser fora
Estar dentro do que deseja
Voz agredida
Xingada
E espancada
Exigência de usar as cordas vocais apenas para assuntos bons
Não usá-las para lutas e argumentações
Muito menos para respostas
Usar a voz para o outro ouvi-la, crime
Cordas vocais descredenciadas e incriminadas
Uma voz agredida tantas vezes
Um silêncio
Aceito
Arranque sem anestesia
Para que as cordas sintam o quanto foram vocais fortes até agora
E que a fortaleza da luta acaba
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