terça-feira, 16 de maio de 2017

Feijoada com galinhada

A bagunça estava posta à mesa.
__ A Maria do fulano morreu, você sabe? Eu fui no velório, mas não passei a noite, nem fui no enterro.
__ A fia do tal que morava lá embaixo separou.
__ Nossa! A festa tava ótima, eles me adoraram.
__ Agora vou contar uma fofoca forte.
__ Eeee, e aí? Tudo bão?
Eram vários assuntos ao mesmo tempo; muitas vezes, nem dava para assimilar quase nada, mas o objetivo era falar e escutar, entender era para outra instância ou família. Ali a fala era desculpa para se trocar carinho. A galinhada também... desculpa e entrelaçamento de vidas e histórias cortadas ou continuadas.
Pratos e os copos cheios. E a boca da vó materna vazia de dentes, mas transbordada de um riso sem tamanho, sem entendimento e reconhecimento do que estava acontecendo por ali e da fisionomia de todos os extremamente conhecidos-estranhos.
Acaba-se o domingo, nessa bagunça parecida com uma gaveta organizada e cheirosa.

Segunda-feira
Visita rápida às tia, prima, amiga queridas.

__Pega feijoada, fia, pega no prato fundo, no prato raso não cabe nada.
__Tô escutano, no rádio, o fulano falar mal do prefeito. Nóóó, hoje ele sai preso.
__Pega mais feijoada. Come esse jiló curtido.
__Qué cerveja?
__Cê viu o Lula? Mas eu achei bão. Ninguém acaba com ele, não. Nóóó, mas eu gosto do Lula.
__Qué mais jiló?
__Qué suco?
À mesa, um amor incondicional pelo primo que estava a sua frente, primo e afilhado; ao seu lado estavam as primas e afilhadas amadas com o mesmo amor dispensado ao primo e ao padrinho.
Barriga lotada, mas com espaço para sentir a vó paterna dizendo: Come mais, tira mais comida. Viver sem ela, nunca será fácil, apenas suportável.
Um carinho no gato, que também ama a vó.

Casa da mãe, um pouco de TV, prosa com ela e a prima afilhada. Um saco de salgadinho com sal da infância. E a notícia de que ganharia a cafeteira vermelha tão desejada.

Estrada.

Terça-feira
Um café, um cigarro para começar o dia e manter o gosto da galinhada e da feijoada.